VEJAM BEM

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

ESCUTISMO


A nossa passagem pela terra é bastante curta para quem tem e quer dar, mas demasiado longa para quem a atravessa sem encher o saco da sabedoria. Bendigo o meu tio que me apresentou o mais antigo movimento juvenil quando tinha apenas oito anos de idade. Faço aqui uma breve resenha da minha vida escutista, porque as situações importantes surgirão de forma espontânea em toda a minha existência.
No ano de 1972 entrei na casa paroquial de S. José de Ribamar, a cave era e continua sendo a sede dos escuteiros. Ingressei no Corpo Nacional de Escutas como Lobito, gostei das brincadeiras, do imaginário da Alcateia, o Livro da Selva e as histórias que contava o Chefe Armindo Flores. O uniforme era algo que já admirava quando os via passar em formatura, mas experimentado tem um sabor mais intenso. Fui elemento do bando preto, sub-guia e cheguei a guia. Passei essas etapas em todas as secções etárias menos na última. O Clã, nome que se dá à secção etária do “Homem Novo”, aos 18 anos, não existia por falta de elementos. Fui o único Caminheiro do meu Clã e como tal entrei em comissão de serviço, sendo instrutor dos mais pequenitos. A viola é um instrumento de trabalho fenomenal para quem lida com crianças, o chefe da alcateia berrava para acalmar os lobitos, eu pegava na viola e todos se calavam. O chefe entrava e ouvia uivos, eu entrava com cuidado porque eles atiravam-se-me ao pescoço numa manifestação igual à dos verdadeiros lobos quando encontram Akelá (mãe loba). Usava o imaginário do Livro da Selva, original de Rudyard Kipling, para os classificar. Quando se portavam menos bem chamava-lhes “vanderlogs” que são os macacos desordeiros da história. Se no Escutismo as patrulhas são identificadas por um animal, só a patrulha macaco não pode existir. É um insulto para nós sermos comparados com esse animal conflituoso e provocador.
O Escutismo é uma escola de educação pela acção onde o sistema de patrulhas habitua os jovens a serem auto-suficientes nas suas tarefas. Não pretende substituir a família ou a escola, mas complementar a educação familiar e a formação académica sendo um guia de orientação cívica e moral que ajuda na compreensão e aceitação das outras formas de construção de carácter.
Sir Robert Stevenson Smith Baden Powell, general inglês habituado a comissões na Índia e África do Sul, quando se reformou arquitectou o movimento centenário que ajudou a formar o carácter de muitos homens e mulheres que se destacaram na humanidade. Começou a pensar no assunto quando em Mafeking se viu cercado, na guerra contra os Boers. Eram poucos em relação ao inimigo e viu-se forçado a fazer das crianças paquetes de informação dentro do cerco. Foram 217 dias de medo e inteligência, cavaram uma trincheira ao redor do forte cercado e espetaram paus com capacetes no cimo para simularem soldados, entretanto os poucos tropas iam rodando para que o movimento ludibriasse o inimigo.
Os ensinamentos de guerra e o convívio com os batedores zulu levaram o franzino general a pensar no movimento scout. Escolheu a palavra devido à palavra batedor = scout, explorador, aventureiro, pioneiro, caminheiro = rover.
Em 1907 realizou um acampamento com meia dúzia de rapazes de rua, juntou-os na ilha de Brown Sea e organizou-os por patrulhas com nomes de animais. Foi o ponto de partida para que passados poucos anos o Escutismo já existisse em alguns países.
O Escutismo apareceu em Portugal em 1912 com a criação da Associação de Escoteiros de Portugal, mais tarde surgiu outra associação similar que depressa se desvaneceu, os Adueiros Portugueses.
D. Manuel Vieira de Matos, bispo de Braga e o seu secretário Monsenhor Avelino Gonçalves foram a Roma e viram uns meninos uniformizados ajudando os bispos que chegavam, a carregar a bagagem. Rápido entenderam que o Escutismo podia ser útil se aproveitado pela Igreja Católica. Em 1923 surge o Corpo Nacional de Scouts, Escutismo Católico Português. Mais tarde a denominação original Scouts sofreu a tradução para Corpo Nacional de Escutas e neste momento, devido às escutas telefónicas pensa-se Modificar para Corpo Nacional de Escuteiros, que na minha opinião devia ser desde o início.
Fui associado do CNE durante 30 anos e porque a Igreja Católica não admite um segundo casamento ou relação amorosa, quando me separei entreguei a minha carta de demissão. Era então Chefe Secretário do Agrupamento 123 S. José de Ribamar. Não fiquei uma semana sem pertencer a uma associação escutista, pois como vivemos numa aldeia onde toda a gente fala dos outros, depressa se soube que tinha abandonado o meu ideal de vida por incompatibilidade religiosa. O presidente da Fraternidade Nuno Álvares (Associação de Antigos Escuteiros Filiados no CNE) captou-me para Secretário da Direcção do Núcleo 11, Póvoa de Varzim. Mais uma terminologia nada conveniente, chamar antigos a quem continua a viver o ideal do escutismo. Somos o Escutismo Adulto, alguns dos nossos meninos abeiram a centena de anos. Findo o meu mandato na direcção local, não quis candidatar-me por ver que trabalhava num núcleo habituado ao excursionismo em vez de praticar o ideal legado por Baden Powell. A direcção regional da Diocese de Braga ao saber que eu estava livre de cargo directivo, contactou-me no sentido de ser candidato por Braga ao cargo de Presidente da Comissão Eleitoral Nacional. Um balde de água fria! Nunca tinha pensado em usar as quinas portuguesas no bico do meu lenço. Se no princípio perguntei: Porquê eu? Logo emendei o pensamento para: Porque não eu?
Em Abril de 2008 completo 36 anos de serviço, sou o Presidente da Comissão Eleitoral Nacional da Fraternidade Nuno Álvares, fui o primeiro a ocupar o cargo, criei o sistema eleitoral para uma associação com 50 anos de vida. Sinto-me feliz por ter sido educado no Escutismo.
A formação integral baseia-se em 4 pólos educativos que ajudam a desenvolver o jovem em muitos aspectos: Estar bem consigo próprio; estar bem com o próximo; higiene e saúde e habilidade manual. Estes pólos educativos dão pano para mangas e até para um capote. O facto de saber tocar viola, gostar de escrever canções, contos, fazer teatro, gostar de bricolagem, etc., vem das actividades escutistas em que participei e organizei ao longo da vida. Não consigo imaginar-me sem o meu lenço ao pescoço, aliás, quero levá-lo na minha última viagem, quando for para o eterno acampamento.

3 comentários:

RUTHY disse...

MUY INTERESANTE TU HISTORIA ,TONY.
Te contaré que yo pertenecí,cuando estudiaba en la Escuela básica, a la rama femenina de los scouts,LAS GIRLS GUIDES (muchachas guías).Teniamos los mismos fundamentos,pero eramos laicas.no religiosas.Aprendí mucho allí y participé en un JAMBOREE que se realizó en mi pais.Es un hermoso recuerdo.
Sigue escribiendo,Tony,lo haces muy bien y muy claro.
( a mi escribeme a mi dirección)
un beso,amigo.

Anónimo disse...

Boa tarde,
será mais um pedido de ajuda do que um comentário (!), se bem que acaba por o ser...seria possível obter ajuda para encontrar informação disponível na Internet relativamente a possível adesão aos escuteiros na Póvoa de Varzim?
Pretendia obter informação disponível antes de me diirigir à Paróquia de S.josé.
Obrigada

António Pinheiro disse...

Gostaria imenso de ajudar, até porque fui Escuteiro 30 anos na Paróquia de S. José, porém não deixou contacto, não tenho forma de o fazer.